terça-feira, 9 de dezembro de 2008

TURISMO EM TIMOR: POSSIBILIDADE E DESAFIO

Dr. Maurício Aurélio dos Santos, Coordenador da Pós-Graduação da UNTL mauricioaurelio@gmail.com 22 NOV 2007.

O turismo é uma atividade econômica ligada ao deslocamento de pessoas, que permanecem num lugar, fora de sua cidade de origem, por um período superior a 24 horas, seja para participar de eventos, para compras, para lazer ou para negócios. Desta forma, enquanto conhecimento científico e atividade profissional o turismo está dividido em turismo de negócios, turismo de eventos, turismo de compras e turismo de lazer.

Embora não seja nosso objetivo aqui – fazer uma classificação dos diferentes tipos de turismo – diremos apenas que essa é uma divisão bem geral, pois enquanto investigação científica ou especialidade profissional ele pode ser ainda subdividido, como por exemplo, o turismo de lazer, que pode ser ecológico ( ecoturismo) , de praia, urbano, rural, etc.

Sendo o turismo uma atividade tão facetada, ao pensarmos nas possibilidades e desafios para o turismo em Timor-Leste, precisamos refletir sobre que tipo de atividade turística poderia estimular o governo timorense, e que desafios precisam ser enfrentados para o seu desenvolvimento.

De imediato precisamos descartar as possibilidades, pelo menos para o atual momento, de um turismo de negócios e de compras, por razões não tão obvias, mas que deixaremos para um outro momento.

Por ora vamos falar, “ an passan ” do turismo de eventos. Para o estabelecimento do turismo de eventos, ou seja, suas possibilidades, estão ligadas a uma demanda regional de eventos e o sudeste asiático possui essa demanda.

Entretanto, os desafios em Timor-Leste para um turismo de eventos são muito maiores que os já enormes desafios para a construção de uma boa infra-estrutura, com centro de convenções, hotéis, restaurantes, lazer noturno, etc. É que a clientela do turismo de eventos exige um serviço de alto padrão e aqui se encontra o maior desafio a ser vencido por Timor-Leste: o turista desta modalidade exige ser bem atendido e com presteza. Exige aquilo que os especialistas em recursos humanos chamariam de uma mão-de-obra eficiente e eficaz.

Como vencer tal desafio?

Primeiro discutir, governo e sociedade, as possibilidades e alternativas para o turismo em Timor-Leste, para construirmos uma agenda e um projeto coletivo, fugindo assim dos famosos projetos de governo que não conseguem se efetivar por serem somente projetos de governo, com pouco ou nenhum lastro social, como é comum em vários lugares do mundo.

Definido como prioridade, governo e sociedade precisam tratar de construir a infra-estrutura necessária (centro de convenções, hotéis, restaurantes, etc) o que vai demandar políticas públicas setoriais, que não devem somente tratar de financiamentos públicos para as obras de infra-estrutura. Essa política pública para o desenvolvimento do turismo em Timor-Leste precisa refletir a necessidade de formação da mão-de-obra turística, que deve contar com profissionais de nível secundário e superior. Precisamos de garçons, arrumadeiras, pessoal de limpeza, jardinagem, atendentes para hotéis e agências de turismo, guias turísticos, cozinheiros, etc. Entretanto precisamos também de planejadores, gerentes, nutricionistas, investidores, etc.

O turismo profissional necessita de pessoal de nível superior, que conheça as técnicas de planejamento, para, por exemplo, elaborar roteiros; que tenha boas noções de gestão, para gerir centros de convenções, agências de turismo, hotéis, restaurantes; gestores públicos, para elaborem as políticas públicas para o setor; economistas; biólogos; nutricionistas... uma gama de profissionais que possam, interdisciplinarmente se debruçarem sobre a atividade.

Para a formação da mão-de-obra precisamos criar uma escola secundária e um curso superior de Turismo e Hotelaria e estou convencido que a Universidade Nacional Timor Lorosa'e, bem como outras instituições de ensino, podem contribuir significativamente para ultrapassarmos esse desafio.

O turismo de lazer, menos exigente que o turismo de eventos, pode muito bem servir de espaço para preparar a sociedade, governo e investidores para o turismo mais seletivo de eventos, como também para um turismo de lazer de alto nível, que não é nosso objeto aqui neste ensaio, pois estou até agora me referindo ao turismo de lazer de massa.

Esse turismo de lazer, menos exigente, formado por pessoas em férias ou em outros momentos de ócio, que não quer “esquentar a cabeça” e acaba sendo mais complacente com a mão-de-obra menos qualificada, tornando-se uma excelente oportunidade para aqueles profissionais em formação. Entretanto esse turista exige belas paisagens, infra-estrutura de hotéis, estradas, etc. Ele exige um ambiente limpo e saudável, portanto ecologicamente tratada. De nada adianta criarmos parques ecológicos ou áreas de proteção ambiental, fixando placas demonstrando que esses espaços foram criados, sem efetivar a sua conservação.

Mas o Timor-Leste tem potencial para o turístico de lazer?

Isso tem e de sobra. Encontramos em Timor-Leste uma natureza privilegiada, com diferentes atrativos turísticos, que devidamente tratados podem atrair sobretudo turistas do sudeste asiático. Suas praias, de excelentes qualidades, prestam-se para o tão apreciado banho de mar, sem falar na abundância de peixes, da beleza dos recifes de coral que favorece as atividades de mergulho, etc. Uma melhora na infra-estrutura, muitas de suas praias já estarão prontas para receber um bom fluxos de turistas.

Em Díli temos um belo litoral, com praias maravilhosas que precisam ser mais bem cuidadas, precisam ser mais bem dotada de sistema especial de limpeza e coleta de lixo, de sanitários públicos, de hotéis e restaurantes, de melhores estradas, etc. Faz-se necessário reconstruir a estrada de contorno ao Cristo Rei, de recapear o asfalto em direção as praias, etc. O mesmo pode-se dizer de Baucau e de muitos outros lugares.

Para o interior então nem se fala. Esse conjunto de mar e montanha, tanto em direção a Maliana quanto em direção a Baucau (para falarmos apenas no “ tasi feto ”) é de beleza exuberante. São praias, salinas, mangues, paisagens...

Temos ainda o potencial termal (a existência de águas sulfurosas de efeitos medicinais), que recebendo a infra-estrutura de hospedagem, alimentação e acesso, estará pronto para o uso como equipamento turístico.

As montanhas da região central são outro atrativo que podem se tornar “ nichos ” importantes . O maior exemplo é o Ramelau, cujo pico é visitado com certa freqüência por adeptos do montanhismo . Temos ainda Matábia entre outros, que planejado como roteiro turístico, poderá ser potencializado com seu patrimônio cultural, através de seu artesanato, das festas e dos costumes locais.

É verdade que ainda há desafios maiores a serem enfrentados. O preço de uma diária em uma pousada em Baucau ou Díli não pode continuar a ser maior que de um apartamento num hotel de categoria muito superior em Bali ou em Singapura. O custo de vida e a idéia de que o preço de um produto ou serviço deve ser muito superior para um estrangeiro do que para um timorense vai a prejuízo dos próprios timorenses, sobretudo daqueles que precisam de um emprego que muito bem poderia ser oferecido pelo setor turístico.

O setor turístico é um grande gerador de emprego e distribuidor de renda e boa parte da infra-estrutura necessária para sua atividade pode ser perfeitamente aproveitada pelos moradores locais e isto sem falar no efeito multiplicador que essa atividade tem, pois incrementa o comercio, completa renda na agricultura, gera empregos por todos os lados.

O desafio do Ministério do Turismo, Comércio e Indústria, através da Direção Nacional do Turismo é grande. Primeiro de convencer o Governo que com menos de 100 mil dólares ano não se incrementa o turismo, depois de mobilizar a sociedade timorense em torno da atividade. Em seguida de formular e implementar, em parceria com os diferentes seguimentos sociais, as políticas públicas necessárias para o desenvolvimento do setor.

A meta deve ser atrair o turista, sobretudo chinês. A Organização Mundial do Turismo prevê que em 2020 mais de 100 milhões de chineses viagem para fora da China por ano. A China já é um dos maiores mercados emissores de turismo do mundo, com 34,5 milhões de chineses visitando o exterior por ano. O Timor-Leste tem atraído em média apenas 15 mil turistas por ano, a grande maioria vindos da Indonésia e da Austrália, ou seja, menos de 1% do total que somente a China emite ao mercado mundial.